
Hélder Postiga. O avançado promete batalhar no Panathinaikos para voltar a ser uma opção regular nos convocados portugueses, com vista ao Euro 2008.
DN: E recorda a opção que teve de tomar no final do Euro 2004 Scolari disse que era uma vergonha Portugal ter tão poucas vitórias nos jogos contra a Itália. Esta semana voltámos a perder. A vergonha continua? HP: Portugal sofreu os golos em alturas do jogo em que é importante não deixar marcar. Por isso, foi difícil dar a volta e reagir. No entanto, houve momentos em que Portugal dominou, o que prova que temos equipa para fazer melhor e vamos, certamente, fazer melhor.
DN: O que falhou? A concentração?
HP: O primeiro golo da Itália foi marcado numa altura em que Portugal dominava. E torna-se difícil reagir. Trata-se de um jogo, de 90 minutos, onde apesar do resultado deixámos entender que temos potencial para fazer muito mais.
DN: Gostou especialmente que fosse Ricardo Quaresma a marcar o golo de Portugal?
HP: Gostei muito que fosse o Quaresma porque estou bastante próximo dele. Ainda há pouco tempo estávamos juntos diariamente. Mas o que gosto mesmo é que seja a selecção a marcar. Importante é que a equipa marque.
DN: Makukula foi um bom reforço?
HP: Foi. Para além de ser um bom jogador, é um óptimo colega, muito divertido. Conheci-o ainda ele estava na selecção sub--21. Todas as ajudas são bem-vindas. A do Makukula, a do Hugo Almeida e a do Nuno Gomes.
DN: O que é que os avançados da selecção sentem quando ouvem dizer que Liedson faz muita falta a Portugal?
HP: Na selecção só fazem falta os que lá estão.
DN: Não sendo avançado, Cristiano Ronaldo está a habituar mal os fãs marcando tantos golos? Estes golos ainda se vão virar contra ele?
HP: O Cristiano é um fenómeno e está a fazer aquilo que eu já imaginava. Acompanhei o seu desenvolvimento ao longo destes anos. Ele é o melhor do mundo. Tem levado o Manchester United às costas.
DN: O presidente da UEFA, Michel Platini, disse esta semana que é no Campeonato da Europa que Ronaldo terá de provar se é, de facto, o melhor do mundo. Concorda?
HP: Não. O que é difícil é ser genial não apenas em cinco jogos mas ao longo de nove meses. E isso é o que o Ronaldo consegue. Ser genial ao longo de uma corrida de fundo.
DN: No próximo Campeonato da Europa, Portugal tem a obrigação de ficar entre os três primeiros classificados?
HP: Antes de mais, temos de passar a primeira fase e, depois, pensar jogo a jogo. É a melhor maneira de encarar este tipo de prova, até porque quando pensamos muito alto costumamos cair.
DN: Qual é a melhor definição que encontra para si como jogador?
HP: Nunca deito a toalha ao chão.
DN: E como pessoa?
HP: A mesma coisa - nunca desisto.
DN: Acha que é isso que Scolari tem visto em si?
HP: Scolari não faz favores a ninguém e sempre que me convocou foi, de certeza, por entender que podia ajudar a selecção.
DN: Não fez parte dos convocados para o jogo com a Itália. Acha que vai continuar a ser uma opção de Scolari?
HP: Vou continuar a trabalhar muito para merecer a confiança do seleccionador.
DN: Scolari enviou um recado a alguns jogadores, referindo-se a maus comportamentos, demasiado gosto pela moda e "bundas grandes". Fez bem?
HP: Um treinador faz e diz sempre aquilo que acha ser o melhor para a equipa, para o conjunto.
DN: Sentiu-se "atingido"?
HP: Não.
DN: A ida para a Grécia não teve mesmo nada a ver com o medo de ficar cada vez mais afastado do Europeu?
HP: Não. Foi apenas a necessidade de participar num novo desafio.
DN: O Panathinaikos, esse novo desafio, comanda a classificação do campeonato grego [o "Pana", com 43 pontos, soma mais um que o AEK e dois que o Olympiakos]. Assumem-se como candidatos ao título?
HP: Claro. Uma das coisas que me levaram a aceitar este desafio foi a possibilidade de me sagrar campeão noutro país. E neste momento, esse é um dos grandes objectivos do Panathinaikos.
DN: O que o levou a escolher o Panathinaikos, quando teve convites de outros clubes gregos, nomeadamente do PAOK de Fernando Santos?
HP: Gostei do desafio que me foi proposto. Na altura, o Olympiakos também estava interessado mas precisava de um desafio que envolvesse a conquista do título e a participação na Taça UEFA.
DN: José Peseiro disse que foi contratado para ajudar numa fase decisiva. Está sob pressão?
HP: Não. Sou apenas mais um jogador que está no clube para ajudar. E a pressão nem sempre é negativa. Neste caso, até é bom sinal. Significa que estamos a lutar por grandes objectivos e que estamos numa boa fase competitiva.
DN: Ter um treinador português está a ajudar muito na adaptação?
HP: Ajuda e tenho uma boa relação com José Peseiro. Ele tenta sempre ajudar os jogadores e eu tento retribuir.
DN:O balneário reage bem a essa proximidade?
HP: José Peseiro trata os jogadores por igual. Inclusivamente, falamos os dois em inglês nos treinos e no balneário para que haja um tratamento igual para todos e para que todos entendam sempre o que estamos a dizer.
DN: Na estreia jogou cerca de um quarto de hora e assistiu a muita violência nas bancadas. Estava à espera de tanta rivalidade?
HP: Nos jogos entre as maiores equipas da Grécia - os clássicos - é normal isso acontecer.
DN: Gostava de encontrar equipas portuguesas na Taça UEFA?
HP: Podemos encontrar-nos com o Braga.
DN: É a terceira saída de Portugal. Qual foi a mais dolorosa?
HP: Talvez a saída para o Saint-Etienne (França) tenha sido a pior, tendo em conta a forma como nessa altura deixei o FC Porto.
DN: Sente-se um jogador mal-amado no FC Porto?
HP: É difícil responder a isso. Temos o exemplo do ano passado. Fiz uma primeira volta fantástica e depois é como se isso desaparecesse da memória. Mas temos de estar preparados porque, é como digo, as pessoas são mais exigentes com os avançados e os guarda-redes. É natural. Nota-se mais quando eles falham.
DN: Como é o ambiente no balneário do FC Porto?
HP: É um ambiente fantástico.
DN: Conhece bem o balneário do FC Porto. Ainda é o que era?
HP: É diferente. Quando comecei a minha carreira no FC Porto, era mais difícil o acesso aos líderes, aos jogadores mais velhos. Agora, os jogadores mais antigos são mais acessíveis.
DN: O episódio Quaresma. Já não é a primeira vez que são apanhados a dizer palavrões e a insultar os respectivos treinadores através das imagens. Esquecem-se de que estão a ser permanentemente filmados?
HP: São gestos intempestivos. E no calor de um jogo nem damos por isso. Já fui expulso duas vezes e quando hoje olho para essas situações pergunto- -me como é que foi possível cometer aqueles erros.
DN: Jesualdo Ferreira é um disciplinador?
HP: Isso é uma coisa entre eles.
DN: No final da época quer regressar ao FC Porto ou vai pedir para continuar emprestado?
HP: Estou ligado ao FC Porto por mais um ano. Por isso, o FC Porto é que sabe.
DN: Só costuma regressar quando o clube muda de treinador. Acha que Jesualdo Ferreira vai ficar muito tempo no Dragão?
HP: Isso não é assunto da minha conta.
DN: Que lhe pareceu o jogo Sporting- -FC Porto, em Alvalade?
HP: Foi só um jogo. O futebol é isso mesmo, o FC Porto teve muitas oportunidades e o Sporting em dois minutos resolveu o assunto. Mas o FC Porto jogou muito bem.
DN: Nasceu nas escolas do FC Porto. Jogaria no Benfica ou no Sporting?
HP: É uma pergunta difícil. Em Portugal joguei sempre com aquela camisola. Fui feliz no FC Porto. Criei-me lá como jogador e como homem. Depois do Euro 2004 tive um convite do Benfica mas surgiu também nessa altura o convite do FC Porto e não hesitei. Nem pensei duas vezes quando optei pelo FC Porto.
DN: José Veiga, antigo director-geral do Benfica, gosta muito de si como jogador. Não está arrependido por não ter escolhido ir para a Luz?
HP: Não. Fui feliz no FC Porto e os títulos que tenho ganhei-os no FC Porto.
DN: Foi treinado por Mourinho no FC Porto. Gostava de ainda se cruzar com ele na selecção nacional?
HP: Gostava. Mourinho ensinou-me muito. Na altura em que ele foi meu treinador eu era ainda muito jovem e não sabia discernir muitas coisas. Ele encaminhou-me e teve paciência.
DN: Tem um feitio difícil?
HP: Tinha um feitio complicado, próprio de quem é muito novo. Hoje não é assim porque já não tenho 18 anos e aprendi que é preciso saber crescer.
DN: Nunca mais voltou a cobrar um penálti como o que marcou contra a Inglaterra, no Euro 2004, e que deixou Portugal à beira de um ataque de nervos [o célebre remate à Panenka, um toque subtil para o lado contrário daquele que o guarda-redes se projecta]. Aprendeu a lição?
HP: Naquela altura estava muito confiante mas nunca mais marquei nenhum assim. Depois daquele, no Mundial 2006, de novo num desempate por penáltis frente à Inglaterra, fui chamado a marcar e fiz golo, mas rematei forte e colocado. Não voltarei a marcar daquela maneira.
(In: DN Online)
PS: Apesar desta entrevista já ser de dia 8 deste mês, só a encontrei hoje e achei que ainda não estava muito desactualizada. A Gerência do blog agradece a compreensão.
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